sexta-feira, 6 de março de 2015

A CRÓNICA DE JOAQUIM VIEIRA NA ANTENA 1

«Portugal conheceu nos últimos dias um Pedro Passos Coelho diferente daquele a que se habituara nos últimos quatro anos. Já não é o Passos Coelho do rigor, da intransigência, dos princípios inflexíveis, da disciplina sem exceção, da execução de um programa custe o que custar, da ultrapassagem da troika, do imperioso empobrecimento da população, do abandono da zona de conforto, da exigência fiscal, da cobrança coerciva de impostos, do agravamento das multas aos prevaricadores, da perseguição aos incumpridores e aos distraídos.

Agora temos o Passos Coelho que não é perfeito, que foge à observância das suas obrigações para com o Estado, que se esqueceu de pagar ou julgou que era facultativo, que nisso foi reincidente sem contrição, que vai a correr liquidar dívidas antigas só devido à ameaça da sua divulgação pública, que acha tudo isso normal e não censurável, o Passos Coelho um pouco videirinho, sem carreira profissional digna de nota fora da política, a gerir uma empresa para receber fundos europeus pagando uma formação inexistente, a viver de expedientes para compor um orçamento confortável, que recebeu um vencimento disfarçado em despesas de representação, ao mesmo tempo que se declarava deputado exclusivo para garantir o subsídio do erário público.

Por estranho que pareça, é o mesmo Pedro Passos Coelho, dr. Jeckyll e mr. Hyde, que ora é uma coisa, ora é outra, sem que os portugueses percebam onde está a sua verdadeira personalidade. Diz-se que a política não deve ser feita com base em julgamentos morais, mas que dizer quando o maior de todos os moralistas é afinal o mesmo que anos a fio fugiu aos deveres cujo cumprimento a todos exige?

Passos Coelho fez do acatamento das obrigações fiscais um dos pilares da sua política enquanto primeiro-ministro, mas agora vem explicar aos portugueses que não há mal nenhum em não pagar ao Estado e só o fazer quando, eventualmente, se for apanhado.

De um passado obscuro, emergiu o dr. Jeckyll que parece querer matar o Mr. Hyde. Nenhum deles merece governar, porque os Portugueses não merecem um governante assim.»
 
Nota: agradecimentos ao Eduardo Pitta pela citação, indo ao encontro do que eu tinha sugerido aqui.

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