Paulo José Miranda escreve sobre A Grua. Abra a imagem num novo separador para ver melhor ou siga para a edição on-line: aqui. Um excerto:
Mas há alguma coisa boa neste livro? De outro modo, há
alguma coisa boa que este livro nos mostre, para além da consciência cortante
do estado miserável do mundo e dos homens? Há! Mostrar-nos que precisamos de
ver. Não é urgente o amor. É urgente ver. É urgente a consciência da existência
do fora de nós. Impossibilitados que estamos de nos olhar a nós mesmos, neste
mundo que nos pisa, neste mundo em que o emprego nos suga as horas e a alegria
e a possibilidade de pensar, e nos empanturra de entretenimento, é urgente
olhar as coisas como se nos olhássemos a nós. Uma grua, um sapato, uma árvore
que resiste nos baldios, podem despertar-nos para a nossa vida. Ver lá fora é
preciso, diz-nos este livro. Talvez o diabo tenha criado o ecrán de televisão,
o ecrán de computador, o ecrán, para nos impedir de ver o mundo, de ver as
coisas, de ver os outros. Porque o mundo que nos aparece nos ecráns não é o
mundo, mas um filtro do mesmo. No ecrán o que nos aparece é a distancia, uma
distância em relação ao mundo. O mundo é o que nos é próximo. Embriagados de
distância, afastamo-nos de nós e do mundo.
3 comentários:
És um visionário. lamento.
"não é urgente o amor. é urgente ver." mas ver não é já o amor em acto? parece-me que sim.
sim, a desesperança, mas saber do olhar amoroso que permitiu a foto que ilustra a capa (que não é segredo)dá uma dimensão redentora (não encontro palavra melhor)a todos os desastres que a grua testemunha.
Agradeço o teu comentário, Maria, que muito aprecio. ;-)
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