sexta-feira, 3 de março de 2017

UM POEMA DA LOUCURA: Panero

Hino a Satã


Tu que és apenas
uma ferida na parede
um arranhão na fronte
que induz suavemente
à morte.
Tu ajudas os fracos
melhor que os cristãos
tu vens das estrelas
e odeias esta terra
onde moribundos descalços
dão a mão dia após dia
procurando entre a merda
a razão da sua vida;
já que nasci do excremento
amo-te
e amo pousar sobre as tuas
mãos delicadas as minhas fezes
O teu símbolo era o cervo
e o meu a lua
que a chuva caia sobre
as nossas faces
unindo-nos num abraço
silencioso e cruel em que
como o suicídio, sonho
sem anjos nem mulheres
despojado de tudo
salvo do teu nome
dos teus beijos no meu ânus
e das tuas carícias na minha cabeça calva
espargiremos com vinho, urina e
sangue as igrejas
dádiva dos magos
e debaixo do crucifixo
uivaremos.


Leopoldo María Panero, Poemas do manicómio de Mondragón, trad. Jorge Melícias, Alma Azul, Fevereiro de 2003, pp, 49-51.

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