sexta-feira, 23 de setembro de 2016

IMPRÓPRIO


Uma tara antiga, folhear necrológicos. Deter-me no rosto de quem parte como quem se olha a um espelho, ver datas e fazer contas, viveu tantos anos, perguntar-me: quantos destes anos terão sido, de facto, de vida? Dei hoje com uma funerária brasileira que vai dando conta on-line dos seus mortos. Foi aí que encontrei a imagem ao alto. A princípio, achei a fotografia inapropriada. Por regra, os mortos dos necrológicos partem em pose familiar, fraterna, sóbria, não ostentam partes desnudas nem poses sensuais. Logo a primeira impressão desvaneceu perante o gozo do inusitado, e o dia foi ganho pela surpresa. Que bom seria se todos nos despedíssemos do mundo como a Sra Amélia, pelo menos uma vez na vida com os ombros soltos e à mostra, libertos dos fardos que carregamos até à entrada nos céus. 

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