terça-feira, 20 de setembro de 2016

CAVE

Há dias escrevi que a perspectiva antecipada sobre o último álbum de Nick Cave me assustava, sobretudo por me parecer um registo sentimentalista onde a dimensão artística poderia perder-se. Sou fã do trabalho de Nick Cave desde os velhinhos The Birthday Party.  No entanto,Tender Prey (1988) e The Good Son (1990), que ainda por aqui resistem no formato LP, foram os álbuns que me cativarem para o universo “caveano”. Já tenho ali, para ouvir com atenção, Skeleton Tree (2016). Ainda não é hoje que o irei fazer, mas sugiro a leitura deste post assinado pelo João Lisboa. Excerto:


Em One More Time With Feeling, documentário de Andrew Dominik em torno da gravação de Skeleton Tree, a começar pelo próprio título, há sentimentos, só sentimentos e nada mais do que sentimentos. Dificilmente poderia ser de outra forma uma vez que todo o processo de filmagem ocorreu pouco depois da morte de Arthur Cave, filho adolescente de Nick e Susie Bick, em Julho do ano passado, consequência da queda de uma escarpa, em Brighton, após ingestão de LSD. E é isso – nunca explicitamente nomeado durante todo o filme mas apenas referido como “the event” – que paira como uma assombração e atribui um acréscimo de sentido às imagens e à música, mesmo que grande parte desta estivesse já escrita antes do desaparecimento de Arthur. A grande questão, contudo, é saber se esse acréscimo é ou não um factor positivo para a economia de um filme que, aqui e ali, parece menos um documentário – registo de acontecimentos, declarações, testemunhos – do que algo razoavelmente encenado: o Nick Cave que se olha ao espelho e, surpreendido, repara nas olheiras que não tinha antes, foi apanhado assim, sem preparação? A exibição que Susie faz do quadro em que Arthur desenhou o local onde viria a morrer foi uma ideia surgida no momento?...

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