segunda-feira, 13 de junho de 2016

POBRES PALHAÇOS

Um rapaz que se diz humorista tentou fazer uma piada com o atentado de Orlando. Saiu-lhe torta, não tem graça, isto é, não faz rir. Perante isto, alguém subjectiviza a graça da piada e diz: a mim faz, eu rio-me com esta piada. Admitimos então que a piada tenha graça para algumas pessoas, o que não nos passaria pela cabeça passa a ser uma probabilidade comprovada pelas centenas de likes. Há centenas de pessoas que se divertem com piadas sem graça, há pessoas para tudo. Num mundo livre o rapaz tem todo o direito a fazer as piadas que bem entender, assim como eu tenho todo o direito a criticar essas piadas, a dizer que elas não têm piada, a tentar explicar que elas não são sequer um produto do humor negro, conceito por detrás do qual se escudam para poderem existir um pouco acima do que realmente são, isto é, bosta mental. O humor negro é inteligente, tem raízes literárias demasiado fortes que não podem ser postas em causa por um ignorante que dá voz ao pensamento dos burgessos. Seria o mesmo que aceitar para a música de Quim Barreiros o epíteto de barroca. A ninguém passa pela cabeça, julgo eu, que a música de Quim Barreiros seja erudita ao ponto de lhe darmos o mesmo valor que damos a Bach. Quero dizer, acho que tal ideia não passa pela cabeça de ninguém. Mas como disse, há pessoas para tudo. O que ressalta desta questão, independentemente dos truques que cada um utiliza para atrair sobre si atenções, é a tremenda confusão que nos armadilha o pensamento sempre que nos metemos a relativizar e subjectivar tudo como se as coisas não tivessem o seu valor e esse valor não adviesse de um maior ou menor conhecimento que temos das coisas e do mundo. Quem determina o valor de uma coisa? Sejamos mais objectivos, quem determina o valor de uma piada? Será o riso que a piada provoca? Nesse caso, se a piada provocar mais asco do que riso deveremos considerá-la uma má piada? Julgo que seria demasiado académico perder-se tempo com tamanha discussão, das discussões académicas retiramos quase sempre pouco mais do que o ensinamento de um tédio enorme. Tipos que pensam como burgessos fazem piadas ao nível dos burgessos, são apenas isso mesmo, burgessos. Assim como os hooligans não são exactamente adeptos de futebol, também o vandalismo humorístico não é exactamente humor. Nada disto tem que ver com limites, muito menos do humor ou da liberdade de expressão, até porque ninguém espera limites no pensamento de um grunho. Seria insensato esperar de um grunho que pensasse com inteligência. Se é grunho é precisamente porque não pensa com inteligência. Os hooligans, por exemplo, pensam com a raiva, com os músculos, pensam com a vontade de destruir. Tipos que fazem piadas são apenas isso, tipos que fazem piadas. Mas também podem, em função das piadas que fazem, levar-nos a pensar que não pensam senão com o intestino grosso, nomeadamente porque das piadas que fazem ressalta apenas e tão-somente uma espécie de hooliganismo humorístico. Querem que olhemos para eles pela porcaria que fazem, nós olhamos, é impossível não olhar, vêem-se por todo o lado. E dizemos olha para estes palhaços, que tristeza de palhaços. Pobres palhaços.

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