quarta-feira, 7 de outubro de 2015

PAINT YOUR WAGON (1969)


Com uma carreira solidificada no teatro, Joshua Logan (1908-1988) chegou à sétima arte com a expectativa de vir a tornar-se num dos grandes nomes de Hollywood. As primeiras longas-metragens contaram com Henry Fonda na dianteira. William Holden foi outra das estrelas com quem trabalhou, tendo filmado Marilyn Monroe como poucos em Bus Stop (1956). O seu último filme, já numa fase desacreditada, foi Paint Your Wagon/Os Maridos de Elizabeth (1969). Importado da Broadway, este musical não é tão mau quanto alguns o quiseram pintar. Reúne os actores Lee Marvin, na sua melhor forma, Clint Eastwood, a um passo de se afirmar como um dos grandes actores do seu tempo, e a belíssima Jean Seberg (sim, a de À bout de souffle, de Jean-Luc Godard), num trio tão escaldante quão improvável numa cidade sem nome algures durante a Febre do Ouro.
A paisagem é a de muitos westerns filmados em vales enlameados de montanhas frias perdidas no meio do nada. Nesses vales montavam acampamento milhares de homens em busca de fortuna, escavando, sulcando, garimpando, apropriando-se de terras com uma vontade onde os cordeiros amestrados de Deus só serviam para elaborar metáforas. E que belas metáforas se elaboram neste filme, trespassado por uma banda sonora que é não apenas o seu ponto mais forte como um dos elementos fulcrais para a compreensão do enredo sexualmente desafiador. Entre as composições da dupla Alan Jay Lerner e Frederick Loewe encontramos momentos épicos e libertadores (I’m on My Way), instantes de um romantismo nostálgico avassalador (I Still See Elisa ou They Call the Wind Maria), ou puras extravagâncias (There’s a Coach Comin’ In e Gold Fever). Inesquecível e tocante é a sequência em que Lee Marvin canta Wand’rin’ Star enquanto vê partir, debaixo de frio e entre o nevoeiro, alguns conterrâneos da cidade em decadência que ajudou a construir:


A personagem errante e inquieta de Lee Marvin, um Ben Rumson sem apelos civilizacionais, folgazão declarado que a melancolia trai amiúde, infiel a tudo menos à sua liberdade e ao sócio Pardner (Clint Eastwood), encarna a imagem que temos do pioneiro solitário, independente, autónomo e determinado, incapaz de se fixar a um lugar. É o espírito nómada do selvagem cujas leis são as de uma natural coexistência, um pirata do velho Oeste. Num acampamento de mineiros visitado por uma família de mórmones, acaba por pagar uma fortuna por uma das mulheres do forasteiro. Elisabeth (Jean Seberg) será a única mulher do acampamento até a loucura do ciúme tomar conta de Ben Rumson, o qual encontrará solução para os seus problemas na construção de um bordel com seis prostitutas desviadas de uma cidade próxima. Com mais mulheres na cidade, Elisabeth não será tão cobiçada. O problema está em que durante a ausência de Ben, Elizabeth apaixonou-se por Pardner. Pardner e Ben resolverão, então, serem não apenas sócios na febre do ouro, como parceiros na partilha da mesma mulher.

Este trio hilariante tem finais diversos no teatro e no cinema. Não importa quais. Num caso, dramatiza-se a relação e enfatiza-se o desespero. No outro, simplesmente se oferece a um coração selvagem a oportunidade de continuar por si próprio depois de ver destruído tudo aquilo que construiu. A chegada da civilização resultará na partida de Ben, o qual deixa para trás uma experiência de amor livre e de vida libertária. Estávamos em 1969, ano quente da história norte-americana. Talvez o filme pretendesse chegar onde não conseguiu. O musical, em franca decadência, não entusiasmava as massas que se reuniam em manifestações pela paz, pelo amor e pelos direitos das classes oprimidas. Ainda assim, fica o registo de uma aventura excêntrica e divertida.

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