quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

THE IMITATION GAME (2014)

 
Ao misturar três tempos, ligados pela biografia do matemático Alan Turing, o realizador norueguês Morten Tyldum corria o risco de nos oferecer uma narrativa intrincada. Risco superado. O problema está em que, sendo biográfico, o filme acaba por se perder num statement algo sentimentalista, e pouco convincente, sobre a questão homossexual. Turing foi um matemático exímio e invulgar, o típico génio da turma, introvertido, anti-social, alvo daquilo a que hoje chamamos bullying. Pelo menos, é-nos assim apresentado enquanto adolescente. Depois de um trabalho fundamental na descodificação dos códigos nazis, com a construção de uma máquina que, dizem os especialistas, esteve na origem dos actuais computadores, Turing caiu em desgraça quando se tornou pública a sua homossexualidade. À época, era crime. Sujeito a tratamento hormonal, com consequências nefastas para a saúde, física e mental, Turing acabou por se matar. Se não se matou (o facto é polémico), matou-o a sociedade. A mesma para quem trabalhou arduamente salvando milhões de vidas. A sociedade livre da europa anti-nazi. Praticamente todo o filme passa ao lado desta questão, levando-nos a ela no remate e fazendo dela o momento mais alto de um filme repleto de picos emocionais. A vida desta personagem fascinante acaba por ser contada com demasiada formalidade, obedecendo a tipificações onde o feitio difícil do homem resulta numa pobre caricatura das contradições que o atormentavam. Pessoa? Máquina? Herói? Criminoso? Duas interpretações muito boas salvam o filme do fracasso: Benedict Cumberbatch (tem uma breve aparição em 12 Years a Slave) no papel principal e Keira Knightley (Anna Karenina) no papel de Joan Clarke, a mulher que Turing pediu em casamento para não perder o privilégio de trabalhar com uma inteligência à sua altura. Preconceitos machistas e homofóbicos são o centro das atenções num filme onde o mais importante parece estar sempre a passar-nos ao lado, a forma como o "mundo livre" trata os seus verdadeiros heróis. Resta a esperança de que César das Neves e Marinho e Pinto vejam o filme, de preferência na companhia das respectivas famílias.

5 comentários:

Claudia Sousa Dias disse...

vou partilhar.

hmbf disse...

Já viste?

Claudia Sousa Dias disse...

Ainda não mas quero. Quando for a Portugal.

Marina Tadeu disse...

Recomendo esta versão com Derek Jacobi.

https://www.youtube.com/watch?v=S23yie-779k

hmbf disse...

obrigado, marina

já tinha espreitado