quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

EL CONDOR (1970)



Ao quadragésimo sétimo filme, as opções começam a ficar apertadas. Surge a sensação de que talvez fosse preferível alargar a selecção. A gente começa a esgaravatar e reencontra velharias, curiosidades, obras-primas esquecidas. Não será o caso de El Condor/O Tesouro de El Condor (1970), que merece constar nesta lista mais pelo seu carácter paradoxal do que por méritos intrínsecos à obra. Próximo do filme de aventuras, que no western encontrou na versão spaghetti território privilegiado, El Condor distancia-se, porém, dos congéneres italianos pela produção arrojada. André de Toth, de quem falámos enquanto realizador do memorável Day of The Outlaw, produziu para o polémico John Guillermin (1925) este filme que conta com Jim Brown e Lee Van Cleef nos papéis principais. O segundo foi sempre uma presença assídua no género, sobretudo em papéis secundários; o primeiro, vinha da NFL e nunca se lhe reconheceram méritos na arte da representação. Ainda assim, a parelha joga bem num campo de batalha onde o que conta é a enérgica presença física das suas personagens. Não existem muitos westerns com actores negros nos papéis centrais. No ano em que Tarantino nos presenteou com Django Unchained, seria injusto não fazer referência a um deles. El Condor surge no conjunto de uma obra inclinada para a exuberância visual, onde podemos encontrar filmes tais como o mítico The Towering Inferno/A Torre do Inferno (1974) ou recriações de personagens oriundas dos livros de aventuras: Tarzan, King Kong, Sheena… Há em todos estes filmes um denominador comum que não pode passar despercebido. De uma forma ou de outra, apontam para tesouros em torno dos quais se desenvolvem ambições humanas destrutivas. El Condor não é excepção, sendo ao mesmo tempo aquele que explora com iguais doses de ironia e de perplexidade a desventura de exploradores avaros e o infortúnio de aventureiros desprevenidos. A pergunta que Jaroo, personagem de Lee Van Cleef, faz ao morrer é exactamente aquela que todos estes filmes parecem querer provocar nos seus espectadores: que faço eu aqui? Esta dúvida sobre a pertinência das acções acompanha incertezas várias acerca do sentido da vida e do esforço colocado na demanda de falsos tesouros, crenças improfícuas, mitos e lendas. No entanto, El Condor, com todos os seus altos e baixos, esconde nas entrelinhas tesouros inesperados. Luke (Jim Brown) consegue fugir da prisão onde cumpria pena por supostamente ter feito explodir um comboio. Vai ao encontro de Jaroo, velho e solitário “garimpeiro”, a quem propõe assaltar um quartel onde os mexicanos guardam a maior reserva de ouro alguma vez conhecida. Para o efeito, precisam de um exército. E Jaroo é o homem ideal para arranjar esse exército junto dos Apache com quem mantém relações privilegiadas. O filme desenvolve-se, então, em torno de um objectivo concreto: o ouro guardado nas catacumbas do quartel mexicano. Seguem-se cenas de batalhas, explosões, emboscadas, combates. Muito tiro, muita acção, muitos efeitos especiais. Mas todo este espalhafato é libertado por um final irónico, que coloca os dois protagonistas frente a frente num quartel praticamente vazio e abandonado. Ambos sucedidos no propósito inicial, acabam traídos pelas suas próprias ilusões. Afinal, as barras de ouro ali guardadas não mais eram do que chumbo banhado a ouro. A sensação que então se instala entre ambos é a de um vazio e de uma frustração que apenas um deles, Luke, poderá suportar. No meio da confusão, encontrou um outro tesouro, um tesouro humano, a única mulher que vivia no quartel, companheira do general Chavez (Patrick O’Neal), agora caída nos braços de Luke. Falsas barras de ouro e uma mulher infiel são os tesouros que John Guillermin coloca lado a lado, ficando por ser evidente para qual dos dois terá pendido o seu coração. Uma coisa é certa: El Condor nunca existiu senão sob a sua forma mítica e ideal, tendo oferecido a quem o procurou um sentido que não seremos nós a julgar de vão. Talvez aquele que procure esteja passos à frente daquele que nega à partida todas as hipóteses não comprovadas. No fundo, Luke e Jaroo são dois cientistas modernos. Fazem as suas experiências, testam, cumprem com mais ou menos rigor o método escolhido. Que daí venham a retirar alguns frutos será sempre uma incerteza. 

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