quinta-feira, 22 de julho de 2010

NO PRINCÍPIO



No princípio era a estrela de três pontas,
Um sorriso de luz através do rosto vazio;
Um galho de osso através do ar enraizador,
A bifurcada substância que medulou o sol primevo;
E cifras ardentes à volta do espaço,
O Paraíso e o Inferno misturados enquanto rodopiavam.

No princípio era a pálida assinatura,
De três sílabas e estrelada como o sorriso;
E depois vieram as impressões na água,
Selo da face cunhada sob a lua;
O sangue que tocou no mastro em cruz e o graal
Que tocou a primeira nuvem e deixou um sinal.

No princípio era o fogo fundador
Que de uma faúlha ateou os climas,
Faúlha de três olhos rubros, brusca como uma flor;
A vida surgiu e jorrou dos mares ondeados,
Irrompeu nas raízes, bombeando da pedra e da terra
Os óleos secretos que adubam os prados.

No princípio era o verbo, o verbo
Que das sólidas bases da luz
Abstraiu todas as letras do espaço vazio;
E das sombrias bases do hálito
O verbo fluiu, traduzindo para o coração
Os primeiros caracteres do nascimento e da morte.

No princípio era o cérebro secreto.
O cérebro estava fechado e soldado no pensamento
Antes de as trevas terem sido deslocadas para um sol;
Antes de as veias terem vibrado na sua peneira,
O sangue disparou e disseminou pelos ventos de luz
O nervo original do amor.



Dylan Thomas, in 18 Poems (1934)
Versão livre de HMBF

1 comentário:

Anónimo disse...

Conheço mal a obra poética deste autor.
Reconheço que é uma lacuna grave, pois foi graças a ele que Mr. Robert Allen Zimmerman passou a chamar-se Bob Dylan.
Obrigada, Henrique, por estas traduções.
:) Maria