segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

CONHECERAM-SE NO DIA DO CASAMENTO


Wystan Hugh Auden , W. H. Auden para os amigos, nasceu em York, a 21 de Fevereiro de 1907. Filho de George Augustus Auden, médico reputado, e de Rosalie (Bicknell) Auden, foi educado no internato de St. Edmund’s Hindhead e na Gresham's School. Conheceu Christopher William Bradshaw-Isherwood, um amigo íntimo com quem veio a partilhar viagens e produção literária, no internato. Antes dessas intimidades, Auden andou por Oxford. T.S. Eliot, então director da Faber & Faber, rejeitou-lhe uma primeira colecção de poemas. Por iniciativa de Stephen Spender, Poems acabará por sair em 1928, em edição privada, sendo posteriormente republicado, em 1930, já na Faber & Faber . Entretanto, em 1928, Auden partiu para Berlim, descobriu Brecht, o cabaré alemão, a liberdade sexual: «Auden e os amigos eram apenas rapazes que gostavam de frequentar os concorridos bares homossexuais da cidade, pejados de jovens do proletariado dispostos a tudo (a depressão económica da República de Weimar fizera disparar a prostituição masculina). Gide também andava por lá, mas as suas preferências iam para miúdos» (Eduardo Pitta, in Metal Fundente). No regresso a Inglaterra, o poeta vendeu aulas em várias escolas britânicas. Viajou à Islândia, na companhia de Louis MacNeice, ganhou fama como intelectual de esquerda, escreveu algumas obras a meias com Christopher Isherwood, casou-se com Erika Mann, filha de Thomas Mann, uma jornalista e actriz lésbica que, pelos vistos, também partilhava a cama com Carson McCullers. O casamento foi apenas uma forma de Erika conseguir passaporte britânico. Na verdade, conheceram-se no próprio dia do casamento. Em 1937, viaja a Espanha com o objectivo de apoiar as forças republicanas. Porque não era membro do Partido Comunista, acaba por ser ignorado. No ano seguinte, viaja à China na companhia de Isherwood. «Sex, according to Isherwood, gave their friendship an extra dimension». Assim foi que, por essa altura, resolveram emigrar para os Estados Unidos. Auden converteu-se ao catolicismo e levou uma vida de recolhimento até se mudar para um prédio em Brooklyn Heights onde residiam vários artistas em “atmosfera de despreocupada licenciosidade”. No decorrer de uma leitura de poemas na League of American Writers, Auden conheceu o jovem Chester Kallman. Será a paixão de uma vida, consolidada também literariamente com a escrita a duas mãos de vários libretos de ópera. Em 1946, o poeta adquiriu a nacionalidade americana. Eleito Professor de Poética, foi firmando cada vez mais a sua reputação enquanto escritor. Apesar de visitar a Europa com regularidade, só em 1972 abandonou em definitivo o território norte-americano. Fixou-se em Oxford, onde foi professor convidado de poesia, mas passava os verões numa casa que mantinha na Áustria. No dia 28 de Setembro de 1973, sentiu-se mal após uma leitura de poesia no Palácio Palffy, em Viena. Chester Kallman encontrou-o morto, vítima de ataque cardíaco, na cama do Hotel onde estavam instalados. Kallman morreu em 1975, sem quaisquer recursos, na cidade de Atenas:

BLUES FÚNEBRE

Parem todos os relógios, desliguem o telefone,
Não deixem o cão ladrar aos ossos suculentos,
Silenciem os pianos e com os tambores em surdina
Tragam o féretro, deixem vir o cortejo fúnebre.


Que os aviões voem sobre nós lamentando,
Escrevinhando no céu a mensagem: Ele Está Morto,
Ponham laços de crepe em volta dos pescoços das pombas da cidade,
Que os polícias de trânsito usem luvas pretas de algodão.


Ele era o meu Norte, o meu Sul, o meu Este e Oeste,
A minha semana de trabalho, o meu descanso de domingo,
O meio-dia, a minha meia-noite, a minha conversa, a minha canção;
Pensei que o amor ia durar para sempre: enganei-me.


Agora as estrelas não são necessárias: apaguem-nas todas;
Emalem a lua e desmantelem o sol;
Despejem o oceano e varram o bosque;
Pois agora tudo é inútil.


Abril 1936


W. H. Auden, in Diz-me a verdade acerca do amor – Dez poemas, trad. Maria de Lourdes Guimarães, Relógio D’Água, 1994, p. 39. Na imagem ao alto: W. H. Auden, Stephen Spender e Christopher Isherwood.

2 comentários:

Unknown disse...

É isso, é. E deu nome ao meu blogue.

hmbf disse...

E deu muito bem.